Demorou mais de sete décadas, mas o dia chegou. O público francês, que lotou o circuito de Le Mans neste domingo (11), viu com os próprios olhos o que parecia impossível até poucos anos atrás: um francês vencendo o Grande Prêmio da França de MotoGP. E não foi qualquer vitória — foi uma aula de estratégia, nervos de aço e talento puro de Johann Zarco, que entrou definitivamente para a história do esporte.
A prova foi disputada sob condições climáticas desafiadoras, com a pista oscilando entre seca e molhada. No início, tudo parecia tranquilo, mas uma chuva fina caiu justamente na volta de aquecimento. Os pilotos, todos com pneus slick, enfrentaram uma pista escorregadia e confusa, e o caos se instalou. Vários entraram nos boxes para trocar de moto e pneus, mas a direção de prova decidiu neutralizar a corrida com bandeira vermelha, por razões de segurança.
Reinício dramático e decisão certeira
Na relargada, Zarco já estava com pneus de chuva montados — e optou por não trocar de moto, decisão que se mostrou crucial. Enquanto rivais como Francesco Bagnaia, Alex Márquez, e o ídolo local Fabio Quartararo se atrapalhavam com entradas nos boxes e penalizações por trocas fora da regra, Zarco manteve a frieza e se destacou por sua pilotagem limpa, segura e constante. Quando os outros erravam, ele construía vantagem.
Do lado oposto, a corrida foi trágica para vários favoritos. Bagnaia caiu e abandonou. Alex Márquez, que vinha forte, também teve problemas. Quartararo, que chegou a estar entre os líderes, escorregou e foi ao chão — um balde de água fria para a torcida francesa, que depois explodiria de alegria com a recuperação de Zarco.
Enquanto isso, Marc Márquez, sempre ele, mostrou consistência e talento para navegar no caos. O espanhol da Ducati Lenovo cruzou em segundo, garantindo importantes pontos e, com os abandonos dos principais rivais, assumiu a liderança do campeonato. Um feito que parecia improvável no início da temporada.
A grande surpresa foi Fermín Aldeguer, que completou o pódio com a Gresini. O jovem espanhol conquistou seu primeiro pódio na MotoGP, mostrando personalidade mesmo em uma corrida com alto grau de exigência psicológica.
O fim do tabu e o nascimento de um herói nacional
A última vez que um francês havia vencido o GP da França na categoria principal foi em 1954, com Pierre Monneret. De lá pra cá, inúmeros franceses chegaram perto — incluindo o próprio Zarco — mas o grito ficou entalado na garganta de gerações. Neste domingo, esse grito ecoou por todo o circuito Bugatti, diante de um recorde de público em Le Mans.
Zarco cruzou a linha com quase 20 segundos de vantagem sobre Márquez, jogou a moto no chão de tanta emoção e levou o público à loucura. “É difícil de acreditar, ainda não entendo o que está acontecendo”, disse ele, visivelmente emocionado. “As últimas voltas foram bastante longas. Acho que preciso de um tempo, mas é simplesmente mágico porque, com os pneus de chuva desde o início, tivemos que controlar.”
Uma vitória que vale mais que pontos
Mais do que os 12 pontos da Sprint ou os 25 do domingo, essa vitória representa uma redenção para Johann Zarco, que já passou por várias equipes, colecionou quedas e críticas, mas nunca deixou de lutar. Aos 34 anos, ele prova que o talento e a persistência vencem, mesmo contra os ventos da juventude e os motores mais potentes do grid.
A vitória de Zarco também interrompe uma sequência impressionante da Ducati: eram 22 vitórias consecutivas da marca de Bolonha na categoria. E, ironicamente, quem quebrou essa sequência foi um piloto Honda LCR, na pista onde os italianos mais esperavam brilhar.
Classificação do Campeonato Mundial de MotoGP 2025 (após 6 etapas)
- Marc Márquez (Ducati Lenovo) – 171 pontos
- Álex Márquez (BK8 Gresini Ducati) – 149 pts (-22)
- Francesco Bagnaia (Ducati Lenovo) – 120 pts (-51)
- Franco Morbidelli (Pertamina VR46 Ducati) – 85 pts (-86)
- Fabio Di Giannantonio (Pertamina VR46 Ducati) – 74 pts (-97)
A liderança de Márquez se consolida num momento crucial da temporada,.
Comentamos:
Essa vitória do Zarco não foi só uma questão de pilotagem. Foi sobre leitura de corrida, sobre saber se manter calmo enquanto o caos toma conta. É um daqueles dias que viram história.
A torcida gritou, chorou e vibrou como se fosse final de Copa. E é isso que faz o MotoGP ser diferente de tudo: emoção de verdade.
